terça-feira, 17 de julho de 2012

S

O cabelo dela era como um bilião de círculos de negra sumptuosidade que se entrecruzam entre si. Despreocupada sumptuosidade, à espera que a pálpebra se abra para que o olho a procure.

O estímulo demora, habilmente escondido na monotonia do ter e nas brincadeiras para adultos que se marcam nessa agenda mortal, ainda que aparentemente infinita. Demora, como uma hora ou como um mês, como um canto de ave ou como as fases de crescimento de um fruto humano.

As nossas preces nascem dele, o suspirar de cada dia o seu sintoma. O relógio de parede que fez súbita amizade com o antiquário de memórias e fotografias antigas atraiçoa o fluir ingénuo e indolor do tempo. Trava-o com constantes paragens, constantes análises que nos levam a outro tipo de ilusão, outro tipo de objectivo: não o da concretização do mesmo, mas o da importância do ser e da dimensão da carne, do sangue, dos ossos.

Tudo isto despoletado por geometricamente banais círculos.

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