sábado, 23 de abril de 2011

Rosa...com espinhos. Updated version.

Eu, rosa de tristes espinhos, enferma estou de tão fútil elogio e agrado. De que vale um fugaz aceno de aprovação, que se consome tão brusco como tarde de sol em Londres? De nada! De um nada infinitamente 0, de um enorme e cheio vazio.

Só queria que alguém fosse mais longe – ousasse pelo menos imaginar o que fica para trás das muralhas. Tudo o que queria era sentir corajosa mão nos meus espinhos, cravada até aos limites da loucura – pele rasgada e sangue morno a brotar, invisivelmente tingindo o meu vestido de pétalas rubras. Não, não seria a morte, antes a prova de honra necessária para que alguma brava existência faça o seu caminho até ao que dentro de mim há, envolto pelo vestido de gala vermelho. Que a dor não o travasse, não, porque valiosa é tão pungente defesa exterior.

Não o conhece, pois, ninguém, ao segredo (à vida!) que em mim protege. Nem cuidadosa jardineira que de mim fingiu cuidar durante dias e noites, mais as noites do que os dias. Para essa, fui só rosa sem espinhos, ingénua e jovem – temerosa, frágil, quebradiça! Terrível excepção cometera eu e os meus segredos ficaram assim visíveis para tão pouco meritória criatura. Pois assim espinhos em mim surgiram, ferozes e bicudos, furando aqui e ali o lindo vestido – para afastar os que com o negro se medram e os que vendo o vermelho não se deixam romanticamente cegar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Whatever

Nunca sei como começar. Nenhuma maneira parece suficientemente genuína, verdadeira. Nenhuma nuvem que pretendo escrever fica borratada nos mesmos tons de significação e nenhuma lua consegue permanecer tão orgulhosa na sua solidão como eu a sinto.

As húmidas granadas, enviadas de forma sequencial em viagem descendente, impedem cada fracção de segundo de clareza e de transformação – um verdadeiro desastre, visto que fazê-lo e transportá-lo para este plano real e caótico sempre foi a minha maneira de sobreviver. Basicamente, porque o cheiro nauseabundo, o fumo negro e espesso, as labaredas altíssimas num degradé de cor-de-laranja são as únicas coisas que quero inspirar bem fundo e manter cá dentro, para me mostrarem que continuo vivo. De forma medíocre e consumida, mas vivo. São as únicas que, quando as perco de vista, me fazem estacar num cenário de luzes que se apagam e deixam o espectáculo passivo da tv, onde tudo se passa sem que façamos parte da ficha técnica, num estado de pausa semelhante a um coma da vida.

As utopias do fantástico nunca me chegaram a cumprimentar com grande reverência irónica e as lúdicas ilusões dos verdes anos nunca me possuíram verdadeiramente a alma, agora completamente cicatrizada com pontos dados pelo tempo. 15 pontos na alma, como o nome do filme. Muitas mais são as vezes que me pergunto porque nada me consola como a um bebé envolto no seu berço de carinho e protecção; como a duas pessoas ligadas por uma hera quebradiça e podre, prestes a romper a qualquer momento – mas, ainda assim, capaz de as unir de forma efémera.

As respostas não surgem. A chuva continua a escorregar pelo ar conspurcado, silenciosa – mas capaz de dizer mais do que tudo o que já li e tudo o que já escrevi. Se calhar por existir enquanto chuva e não enquanto objecto preso a dogmas e expectativas infundadas, a devaneios de terceiros.

A chuva não pode ser controlada, mas grato seria por me submeter às suas vontades partindo de um quadro branco, por pintar, o resultado da inércia naturalista e não da reflexão. Oxalá pudesse limitar-me a senti-la, como rainha de agulhas frias, exorcista das peças do puzzle que não encaixam e que teimam em chocar umas com as outras neste tabuleiro de sangue e sentidos.