quinta-feira, 26 de julho de 2012

Paz


Gentis carícias do conforto do não sentir, da segurança da distância que entorpece e que clarifica mantêm a alma tépida e placidamente tranquila.

A noite não cai sobre os ombros como fardo pesado de saudade e de vício; isso fica para almas mundanas comuns. A noite é o vento e o vento é a noite que empurra todas as peças que não encaixam, as peças que foram forçadas e que magoaram sem proveito.

As memórias não congelam, mas espreitam por trás do cortinado espesso das portadas que cobrem os olhos, demasiado dispersas para se tornarem inconvenientemente em pânico, medo ou falta.

Sinto que não me sinto, sinto uma casa de trancas fortes, fria e insípida como uma salada por temperar que me irá manter saudável o corpo, vegetante a alma. Até que novamente as trancas, fortes por pura ilusão, sejam forçadas novamente e o sangue volte a produzir a sonora cascata latejante do costume.



Quando isso acontecer, "help me to make it". It's a "consequence of what you do to me".

terça-feira, 17 de julho de 2012

S

O cabelo dela era como um bilião de círculos de negra sumptuosidade que se entrecruzam entre si. Despreocupada sumptuosidade, à espera que a pálpebra se abra para que o olho a procure.

O estímulo demora, habilmente escondido na monotonia do ter e nas brincadeiras para adultos que se marcam nessa agenda mortal, ainda que aparentemente infinita. Demora, como uma hora ou como um mês, como um canto de ave ou como as fases de crescimento de um fruto humano.

As nossas preces nascem dele, o suspirar de cada dia o seu sintoma. O relógio de parede que fez súbita amizade com o antiquário de memórias e fotografias antigas atraiçoa o fluir ingénuo e indolor do tempo. Trava-o com constantes paragens, constantes análises que nos levam a outro tipo de ilusão, outro tipo de objectivo: não o da concretização do mesmo, mas o da importância do ser e da dimensão da carne, do sangue, dos ossos.

Tudo isto despoletado por geometricamente banais círculos.