sábado, 16 de outubro de 2010

Cacofonia escrita

Cerro os dentes outra vez. Voltou aquele zumbido agonizante, aquela tortura mental em forma de voz estridente cor de rosa.

Tinha de ser cor de rosa. Odeio cor de rosa. Não podia ser preta, como a roupa dos góticos? Como as noites de desespero? Como as luzes que não me encontram?

Assim a dor não voltava - era contínua. O sangue iria jorrar muito lentamente dos pulsos cortados ; não de forma suficientemente lenta, ainda assim, para que a esperança o pudesse estancar.

E porque me segue em qualquer altura do ano? Não podia aparecer só no Outono e no Inverno? O vento gélido basta por si só para amedrontar qualquer vestígio de vitalidade, qualquer peito de flor inconsciente sem agasalho...

O gelo nem precisa de explicação em relação aos seus efeitos. Era bom se também pudesse congelar os sonhos por tempo indeterminado, de forma a que os recuperássemos intactos um dia, para os podermos cumprir e entregar as nossas cordas (cordas de marioneta) ao criador.

Mas nem isso nos dão. Nem os palermas dos sonhos se mantêm. Para quê lutar hoje pelo preto se amanhã serei a voz cor de rosa e estridente que tanto odeio?