sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Guarda-chuva



Tenho um guarda-chuva. Desses baratos, dos chineses, com as varetas tortas e o tecido furado.

Foi tudo o que me deram para me proteger das tempestades. Dos trovões que me perfuram o peito e deixam aquela sensação estranha de vazio, de revolta.

Um simples guarda chuva que abana, à beira do colapso, à menor insinuação do vento.

Os remendos não servem de nada. A cada dia que passa, enferrujam as varas, frágeis como paus secos; aparecem novos buracos no tecido.

O meu guarda chuva é mágico. Deixa entrar a chuva, mas não deixa que o sol ilumine a minha face pálida. O meu guarda chuva é tão grande que não deixa que ninguém caminhe ao meu lado, ao longo dos passeios intermináveis. O meu guarda-chuva é a minha única companhia.

E se eu não precisar dele para nada? E se eu precisar de ficar ensopado até aos ossos?

Odeio-o. Mas é tão difícil dizer adeus ao frágil guarda-chuva dos chineses...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Obstáculo



Empurra-me a força da aragem
Atira-me areia para a vista
Que impede a minha passagem
Por mais que eu insista

Não deixa que me perca
Que siga a fragância do perigo
Meu único e fiel abrigo!

Faz de mim duna de areia
Fragmentos de uma vida
Que breve serão arrastados
Por água de maré cheia!

Não consigo estender o braço
Para me salvares do cansaço
Das viagens nos escombros
Das saudades do teu regaço

Será que chegou o adeus?