quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A love affair

Isto faz parte de uma pequena história que vou escrevendo e avançando, quando assim me apetece. É completamente despretensiosa, e só espero que seja agradável de ler.


Era um calmo riacho.

De um azul-esverdeado, com alguns pequenos peixes viajando tranquilamente no seu leito morno.

As margens eram húmidas, com erva de um verde brilhante, extraordinariamente vivo. Existiam também algumas árvores, com aspecto secular, mas majestosas no seu porte poderoso.

Estava ali deitado, distante de tudo, com a Sophie. Conhecemo-nos há 11 anos. Vivíamos na mesma rua, St. Peter's Lane, na pouco ortodoxa mas fascinante Manchester. Ambos fomos desenvolvendo ao longo do tempo uma curiosa apetência por livros, filmes e música menos generalistas e pouco conhecidos pela maioria.

Sophie era a única pessoa com quem falava de tais temas, sob pena de ser considerado um estranho alien desorientado neste universo. Em suma, podia falar de tudo e sentir-me bem com isso. Além de que ser compreendido era muito satisfatório...nunca o fora por parte de muitas outras pessoas que partilhavam a minha idade.

Contudo, em apenas alguns dias, a nossa relação pareceu mudar.

Nessa tarde, divertíamo-nos a contar anedotas um ao outro, naquela humidade tranquilizante. E subitamente...

A sua pele exalava um cheiro tão convidativo, suave e apetecível. Tinha uma textura capaz de enlouquecer quem dela se afastasse por muito tempo, e era facilmente comparável a seda.

Ela era extremamente pálida, ainda que as bochechas solarengas mostrassem o quão quente aquele dia estava.

Os seus olhos pareciam cada vez mais intensos e vivos, tantas vezes os fitei nos últimos dias, ainda que o castanho claro que exibiam se mantivesse inalterado (e combinasse deliciosamente com os seus lisos cabelos castanho-mogno).

Ela observou o meu ar distante e disse, com uma nota de leve irritação e, ao mesmo tempo, diversão na voz:

-Não ouviste nada do que eu disse! Em que estás a pensar?

Rapidamente, tentei esconder todos aqueles pensamentos no mais escuro e inatingível baú da minha mente, e retorqui suavemente:

-Em nada...é tão bom estar aqui contigo, sem ter nada marcado para fazer a seguir.

-Oh- começou ela - sim, também gosto de estar contigo. És...diferente, especial - proferiu ela, num cliché que interpretei ingenuamente.

-Ah, sim, sou excelente a deitar-me debaixo de árvores com raparigas bonitas - murmurei, suficientemente alto para que ela ouvisse.

Ambos nos rimos levemente. Subitamente, parei e olhei-a nos olhos. Apenas um pensamento se apoderou de mim.

Ela percebera o que estava prestes a acontecer. Fechou os olhos e inclinou a sua face; hesitei por um momento. Coloquei a minha mão suavemente por trás do seu pescoço. Conseguia sentir a minha respiração descontrolada, ofegante....e aproximava-me cada vez mais.

Por fim, os meus lábios tocaram lentamente aqueles, delicados e finos. Nunca sentira nada assim. Se a perfeição existisse, teria de estar concentrada naquele gesto tão simples e doce. Não queria que acabasse...

Não sei quanto tempo demorou ao certo. Mas subitamente, tudo se desvaneceu.

-Porque fizeste isto? - sibilou Sophie, num tom de voz quase digno de súplica.

Hesitei antes de responder.

-Eu, hmm... - tentei evitar o olhar, focando-me nas belas árvores, onde repousavam alguns melros - pensei que também o quisesses.

-Não! - insistiu, apesar da sua voz ter falhado - Nós, nós...não consigo, somos amigos há demasiado tempo!

-Mas porquê? Pensei que também o tinhas sentido! - afirmei, ansioso.

Num ápice, levantou-se e, com o rosto a transparecer o quão confusa estava, atirou:

-Desculpa...! Tenho de ir. Falamos depois!

-Sophie! Espera! - gritei, na esperança de que ela voltasse atrás.

Desapareceu rapidamente por entre os raios de verão, deixando-me só.

Eu girava num turbilhão de sentimentos: porque havia ela reagido assim? Teria falhado miseravelmente? Ela não gostava de mim? E se, pior, tudo fosse destruído por aquele impulso?

No fundo, se nos devemos deixar guiar pelo que sentimos, porque havia aquele momento fugaz deitado tudo a perder?

Senti-me incapaz de reagir, devido ao novelo de preocupações que se começava a formar dentro de mim.

Deixei-me ficar ali, perdido no meu mundo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Momentos perdidos

A vida é um caminho bastante sinuoso, impreciso e durante o qual somos uma nuvem capaz de se desvanecer a qualquer momento. Subitamente, qualquer coisa pode acontecer.

Há momentos em que estamos à beira do fim, e por uns centímetros escapamo-nos. E não temos a noção do que aconteceu.

Não conseguimos perceber que tudo podia ter acabado ali. Este é, provavelmente, o motivo do pouco valor que atribuímos a certos momentos.

Continuamos a projectar, planear, assumir presunçosamente que tudo vai correr como desejamos...e basta uma falha para nos fazer sentir frustrados, desiludidos, impotentes.

Além disso, somos incapazes, em muitas alturas, de saborear e disfrutar momentos que poderiam ser maravilhosos. Devido ao facto de queremos sempre mais e mais.

Esquecemo-nos de que, na vida, o que importa não é só o lugar onde chegamos, mas sim o modo como delineamos o percurso até lá.

O ser humano tem uma maneira incompreensível de decidir o que é melhor para si, o que o faz sentir-se mais feliz e realizado. Mesmo com tantos vultos errantes que poderiam mostrar o caminho.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Contradições

Bem sei que o título do blog é "Palavras Vagas", mas de certeza que qualquer um sabe que nem só disso vive uma pessoa.

Hoje dei por mim a constatar que há dias em que a frustração (ou outro sentimento qualquer, isso é o que menos importa agora) impede algumas actividades.

Uma delas é conduzir. Experimentem conduzir depois de terminarem uma relação (que valeu qualquer coisa mínima para vocês, é preciso fazer notar este pormenor!) e vão parecer tão imprecisos e estúpidos como uma loira de saltos altos a conduzir com as mamas em cima do volante! (nenhuma ofensa à classe das loiras de mamas grandes - são um pacote bastante apetecível...e também têm um pacote bastante apetecível!).

É uma falha comum a uma boa fatia da humanidade; quando não se está seguro e se faz um erro...vêm mais uns quantos numa fracção de segundos. Mas bom, erros piores serão certamente coisas como:

-Votar no PS;
-Dizer que Portugal é uma província espanhola (dedicado a americanos);
-Comprar um portátil e-escola, mesmo tendo um PC em casa, só por causa da banda larga móvel (que é maravilhosa *cof cof*)
-Ouvir D'zrt;

No entanto, eu sou generoso, e mesmo cometendo esses erros serão bem vindos neste blog. OK, excepto se ouvirem D'zrt.

Voltando atrás, além da impossibilidade de conduzir decentemente em dias de frustração intensa (ou o tal outro sentimento!), ia referir que talvez não fosse possível escrever condignamente também.

Mas parece que estou redondamente enganado, tendo em conta vários sofredores da nossa Pátria com excelentes imagens das suas almas impregnadas em perfumadas páginas.

Portanto, não vos maço mais e desejo-vos um excelente início de fim-de-semana!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Distractions...

Num dia tudo está bem, noutro dia surge o vazio. Vazio esse que talvez sempre tenha existido, escondido sorrateiramente dos levianos olhos humanos.

Talvez fosse só uma sensação vã de conforto e egoísmo.

Talvez a minha alma tenha sido libertada, nessa justa tristeza que aos poucos abandona o carrossel que nunca pode parar. Qual soldado de guerra, pronto a esquecer as mágoas, pronto a recomeçar a sua corrida contra o tempo.

Estado de espírito propício a ouvir Zero 7 - Distractions. Vale a pena!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Saudade...

Saudade…

Qual faca cortante, capaz de atravessar qualquer profunda caixa de Pandora, dessas que existem na imensidão dos sonhos e medos.

Tão cruel, na forma como se alimenta da maior fraqueza e, ao mesmo tempo, da maior arma de combate que vagueia nessas preciosas caixas atrás citadas.
Trata-se, claro, do desejo de ser desejado, de ser presença solarenga e marcante nas manhãs (e tardes!) de qualquer existência.

A ânsia de um doce beijo suave, da explosão atómica quando as mãos se enlaçam, os olhos fechados, como que incapazes de contemplar algo tão poderoso como é o amor.

E depois... somos levados no turbilhão, incapazes de raciocinar com clareza, incapazes de quebrar a ilusão.

Pandora liberta o monstro, ofegante.
O desejo de ter e não poder, querer e não chegar, ousar e magoar. Quando a máscara suplica ardentemente por satisfação e, quão humano e repugnante, ela é concedida.

O vislumbre das amargas águas do mar, do salgado areal, dos pensamentos perdidos – perdidos não, há muito encontraram apenas uma personagem principal.
Os minutos vagarosos, a vida incompleta, apenas metade vivida - mar sem terra, tela sem cor, amor sem dor.

E, no entanto…não ter saudades é não amar; não voar; não ver, não viver. Esconder-se como rato medroso num beco negro e doloroso.

Errar, verbo fatal, incompreendido pelos humanos. Sempre tido em tão má conta, um genuíno refugiado de qualquer dicionário. E de quem é a culpa, pelo menos neste caso? Ah!
Saudade…