sábado, 26 de novembro de 2011

Guerra

Fiz o que o meu servo me pediu.

Em movimentos de descontida agitação estraçalhei o escudo baço que me era alheio, agarrei nas suas odiosas entranhas e tentei rasgá-las como t-shirt dos chineses, de fibra frágil e contrabandeada.

Com farpas de borbulhante raiva lhe atirei, afiadas e certeiras no seu sangue negro e pulsante.

Como guerreiro cansado, arfei para fora do campo de batalha, feliz por ter cumprido a minha obrigação militar, social e familiar.

Ouvi dizer, no entanto, que hoje em dia já não se usam farpas de genuína raiva; antes granadas de cinismo calculista bem aceite, porque as primeiras têm contra-indicações graves nas vítimas - coitadas, sempre as vítimas.

As batalhas já não são o que eram. O pó já não levanta por sobre os vultos caídos - levanta sobre nós, cavaleiros dignos que suam, sangram e sofrem por uma causa indecente. Empurra-nos para a prisão da vitória sangrenta.

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