Fria, a rua camuflada por folhas laranja e amarelo outonal. Frio, o meu coração exangue sempre que mais folhas brotam naturalmente dos ramos, seguindo o seu rumo natural.
Porque não as deixar brotar? Porquê travar as chuvas pontuais, a incontinência propositada das nuvens?
Neste mundo de círculos viçosos e viciosos, para quê a ilusão do controlo do que tem vida própria? Porquê o desconforto de besta egocêntrica que quer as marés a seu gosto?
Acalma-me o abraço da brisa, quando me acaricia suavemente, antes de voltar a roncar com todo o furor. Deixa-me só e susceptível a indiferença e a distância do ronco perante os meus desejos.
No entanto, não é por eu saber que as folhas caem naturalmente que fico contente quando as vejo mergulhar num mecanismo de morte colectiva.
Um dia farei o mesmo. Um dia caio como todas as outras folhas, sem que isso apazigue a culpa.
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