Há-de sempre chegar o dia. O dia em que as planícies se deixam revolver pelos ventos inseguros, o dia em que o mar trepa de vez o cais outrora lânguido e proveitoso.
No fundo, todos os peões insignificantes deste mundo têm escondida pela roupa bem-cheirosa das regras e costumes sociais a faculdade de incharem como peixe-balão e deixarem a vista turvar-se perante a confiança nas sortes.
Podemos muito bem seguir sem esforço pela faixa apreciável da direita, deixar-mo-nos rolar pelos melhores momentos, até que sem que nada apareça à frente, guinamos subitamente rumo ao acidente. Pergunto-me até que ponto não é esse o nosso modo natural de ser, disfarçado pela convivência ética. Pergunto-me até que ponto valerá a pena nos perdoarmos uns aos outros por algo tão desastroso - mas natural.
Os nossos olhos não são uma força, apenas um indicador de fraqueza - conseguem ver os outros, mas não olhá-los. Fazem de nós irascíveis bestas desconfiadas, crentes convictas apenas do egocentrismo. Disso sim, tenho pena, mas nada mais posso fazer a não ser um inócuo pedido de desculpas e seguir em frente, com mais uns estilhaços a aparecerem no espelho que condensa as frias lágrimas do falhanço.
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