Tudo o que eu menos queria era ver-te outra vez. Mas apareceste. Pelo brilho alternado dos carrinhos de choque, suspensos longe da gravilha do solo, vi novamente os teus cabelos, passado tanto tempo como da última vez que a água inundou o deserto. Não eram cabelos reais, de seda, pintados no cabeleireiro do bairro; não. Era um holograma habilmente realizado pelas luzes festivas. Vamos fingir que não apareceram pelo tormento do “ter saudades”, pela falta do oxigénio vicioso que me davas quando baixavas as cuecas.
Não te menti. Se no início queria o perfume dos teus cabelos caros ou o segredo baço dos teus olhos vidrados, rapidamente o perfume fugiu e o segredo passou a ser monotonia. A razão do nosso ser passou apenas à mundana travessia do túnel cor de pele, às bocas retorcidas dos gemidos e ao egoísmo dos olhos fechados para o mundo.
Porque apareceram os teus cabelos tanto tempo depois, do nada do céu? Porque quero tudo isso outra vez. Não necessariamente os teus cabelos ou o mesmo túnel, talvez outros, sei que não alimentas esperanças nem eu o faço. Que outro exótico perfume me invada. Estou novamente pronto para isso. Para o túnel todos estamos. Sempre.
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