Aqui dentro está quente, acolhedor, confortável, como sempre. Lá fora as folhas caiem banalmente, como sempre fizeram, aos poucos consumando a calvície das árvores e a incontinência das nuvens.
Suspiro. Só queria companhia, para não cair sozinho como as folhas amarelo-fora-de-prazo das árvores. Só queria viver o fácil e banal cliché de andar à chuva de mãos dadas com a minha pseudo alma gémea. Pseudo. Isso não existe.
Mas existem tantas folhas, tantas potenciais folhas...
Apenas o vento as pode fazer roçar em mim na queda, deixar os seus cadernos caírem ao chão na esquina do Outono e trazer para a mesa duas chávenas de café e de miragem.
O vento está lá fora e eu estou cá dentro, longe do mundo das probabilidades. Por ora desisti de me tornar escravo desse mundo, dessa corrente de ar pela qual já esperei, impotente.
Agora vejo as folhas viverem, rodopiarem como marionetas do destino cruel. O destino é pai do vento e ensinou-lhe todos os seus truques. Um dia, sei que não vou resistir, sei que me tocará á campainha. Sei que terei de abandonar o "aqui" e tentar outra vez a minha sorte.
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