Não sei há quantos dias
Não sei há quantos luares
Trouxeram aquelas maresias
Meu corpo para estes vagares
Turvas as águas, outrora
Sujas de sangue e lama
Anos antes da aurora
Me deixaram tempos de infâmia
Feitiços de bruxas lendárias
Lacunas de um ser imperfeito
Submerso em dores imaginárias
Perdido no seu próprio leito
Tardou a onda de espuma
Que me traria ansioso alento
Adormecida ficou, na bruma
À espreita daquele momento
Chegou, por fim, sem aviso
Quem vem libertar este nó
Que faz de mim tão narciso
Que me sufoca e me deixa só
Só esse possui a chave
Que o abre, baú velho e baço
Só esse comanda a nave
Na qual iremos para o espaço
Enfim no meio das estrelas
Mais que metade me tenho
Névoas escuras, porquê vê-las?
Ficaram onde me estranho
Esfumam-se, vagas, distantes
Como páginas de diário antigo
Perdem-se no passado, latejantes
Fragmentos de tão vil inimigo
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