terça-feira, 27 de outubro de 2009

Em busca da felicidade

Sinto os acordes da guitarra. A pancada seca e ritmada da bateria. A doce gentileza do piano.

Movo-me ao som da angústia, da paixão, do fogo que me queima lentamente.

Liberto a raiva que me possui, a tristeza que me pára, o medo que me tolda.

Ninguém me importa neste momento, qual rosa narcisista que floresce sozinha, acima de todas as outras.


Oh, quão efémera! Subitamente, a música acaba. Todos começam a partir.

Sentimentos sufocados de novo nessa masmorra secreta, dentro da alma. Apenas resta a escuridão, intensa e livre.

Tomado pela frieza enigmática da noite, enfeitiçado pela aura misteriosa do luar.

A Lua deixa caír lágrimas cinzentas; sabe que nunca me conseguirá mostrar a estrada a seguir.

E a brisa gélida chega...e com ela, uma nova dor, uma nova ânsia.

Onde irei acabar?


Não, não será assim tão simples. Não quero parar.

Faço-me ao caminho, animado pela chama quente que despoletou no meu corpo.

Caminho horas a fio, pelo meio dos milheirais, cuja altura me faz sentir insignificante; continuo por um bosque calmo, onde apenas as árvores sussurram; a dada altura entro na vila, pacata àquela hora, pouco antes do acordar.

Serpenteio por entre as pequenas casas rústicas, construídas em pedra.

A vila está cheia de ruelas e becos dos quais é difícil saír; ao fim de muito esforço, consigo encontrar aquele palácio majestoso, com um porte capaz de entorpecer os sentidos, com uma beleza capaz de acordar qualquer velho coração adormecido...

Não bato à porta - não quero acordar quem lá mora. Entro suavemente por entre os portões - e dirijo-me às escadas, cobertas por um suave tecido vermelho.

Chego ao topo - esquerda ou direita? Tanto faz. Sigo rumo a um dos lados, pedindo para que a sorte me proteja.

O corredor é ricamente decorado. Tem quadros difíceis de contemplar, visto que apenas são alumiados por algumas tochas, que ainda assim mostram as molduras douradas.

O chão tem algumas peles de animais, e ainda que produto de um acto cruel, transpiram luxo e requinte.


Há três quartos, apenas um deles com a porta fechada. Após alguma hesitação, entro nesse.

Encontrei-a. Fios de cabelo de um loiro vibrante, quase dourado, correm até ao pescoço, ondulados; tez muito clara, que respira inocência e sensualidade. Aproximo-me um pouco mais.

As suas pálpebras delicadas repousam ainda, exibindo longas pestanas e sobrancelhas finas e sinuosas.

Devagar, aproximo-me da sua face. Tornam-se visíveis algumas sardas e a pele sedosa que tem. Outra dimensão me prende... até que toco aqueles lábios doces, sossegados, durante alguns momentos.

Ela acorda, lentamente; quando me reconhece, sorri.

Fitamo-nos intensamente. Não há perguntas. Não são necessárias palavras. Apenas mais um beijo...e outro.


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