Queres mudar o teu mundo.
Estás farto do monótono céu cinzento, do sol invisível, das nuvens opacas.
Sais de casa com os cordões desapertados, com o casaco aberto, cabelo desgrenhado, unhas de agricultor.
O que é que isso importa?
És um génio, no meio do rebanho. Aquele que realmente sabe o que importa, cujo valor não será nunca reconhecido até que a sua vida chegue à última estação.
Não tens de ficar. Não sairás derrotado, humilhado, de cabeça baixa. Apenas estás a seguir o teu sonho. És senhor da coragem de admitir, incapaz de ser tomado pela ilusão.
Passo após passo, longe da margem, perto da luz. Ninguém a irá deixar visível para ti, terás de ser tu a destapá-la.
E quando se oferecerem para te mostrar o caminho, saberás que preferes caminhar sozinho, orientado pelo ténue brilho do luar.
Mesmo que a meio te barrem o caminho, não terás de permanecer imóvel, qual angustiante indecisão, eterna.
Poderás voltar atrás e percorrer os teus desejos.
Quando te questionarem, não terás de os fazer acreditar no que dizes; apenas basta que tu próprio acredites.
E continuarás a caminhar, a espezinhar os espinhos que ousam atravessar-se à tua frente.
Um pé depois do outro, ombros a deslizarem ritmadamente, rumo ao futuro risonho que te espera.
Olhos focados no horizonte, lábios firmes e decididos, de quem está prestes a mudar de rota.
Boa sorte! Encontramo-nos um dia - no fim do percurso.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Em busca da felicidade
Sinto os acordes da guitarra. A pancada seca e ritmada da bateria. A doce gentileza do piano.
Movo-me ao som da angústia, da paixão, do fogo que me queima lentamente.
Liberto a raiva que me possui, a tristeza que me pára, o medo que me tolda.
Ninguém me importa neste momento, qual rosa narcisista que floresce sozinha, acima de todas as outras.
Oh, quão efémera! Subitamente, a música acaba. Todos começam a partir.
Sentimentos sufocados de novo nessa masmorra secreta, dentro da alma. Apenas resta a escuridão, intensa e livre.
Tomado pela frieza enigmática da noite, enfeitiçado pela aura misteriosa do luar.
A Lua deixa caír lágrimas cinzentas; sabe que nunca me conseguirá mostrar a estrada a seguir.
E a brisa gélida chega...e com ela, uma nova dor, uma nova ânsia.
Onde irei acabar?
Não, não será assim tão simples. Não quero parar.
Faço-me ao caminho, animado pela chama quente que despoletou no meu corpo.
Caminho horas a fio, pelo meio dos milheirais, cuja altura me faz sentir insignificante; continuo por um bosque calmo, onde apenas as árvores sussurram; a dada altura entro na vila, pacata àquela hora, pouco antes do acordar.
Serpenteio por entre as pequenas casas rústicas, construídas em pedra.
A vila está cheia de ruelas e becos dos quais é difícil saír; ao fim de muito esforço, consigo encontrar aquele palácio majestoso, com um porte capaz de entorpecer os sentidos, com uma beleza capaz de acordar qualquer velho coração adormecido...
Não bato à porta - não quero acordar quem lá mora. Entro suavemente por entre os portões - e dirijo-me às escadas, cobertas por um suave tecido vermelho.
Chego ao topo - esquerda ou direita? Tanto faz. Sigo rumo a um dos lados, pedindo para que a sorte me proteja.
O corredor é ricamente decorado. Tem quadros difíceis de contemplar, visto que apenas são alumiados por algumas tochas, que ainda assim mostram as molduras douradas.
O chão tem algumas peles de animais, e ainda que produto de um acto cruel, transpiram luxo e requinte.
Há três quartos, apenas um deles com a porta fechada. Após alguma hesitação, entro nesse.
Encontrei-a. Fios de cabelo de um loiro vibrante, quase dourado, correm até ao pescoço, ondulados; tez muito clara, que respira inocência e sensualidade. Aproximo-me um pouco mais.
As suas pálpebras delicadas repousam ainda, exibindo longas pestanas e sobrancelhas finas e sinuosas.
Devagar, aproximo-me da sua face. Tornam-se visíveis algumas sardas e a pele sedosa que tem. Outra dimensão me prende... até que toco aqueles lábios doces, sossegados, durante alguns momentos.
Ela acorda, lentamente; quando me reconhece, sorri.
Fitamo-nos intensamente. Não há perguntas. Não são necessárias palavras. Apenas mais um beijo...e outro.
Movo-me ao som da angústia, da paixão, do fogo que me queima lentamente.
Liberto a raiva que me possui, a tristeza que me pára, o medo que me tolda.
Ninguém me importa neste momento, qual rosa narcisista que floresce sozinha, acima de todas as outras.
Oh, quão efémera! Subitamente, a música acaba. Todos começam a partir.
Sentimentos sufocados de novo nessa masmorra secreta, dentro da alma. Apenas resta a escuridão, intensa e livre.
Tomado pela frieza enigmática da noite, enfeitiçado pela aura misteriosa do luar.
A Lua deixa caír lágrimas cinzentas; sabe que nunca me conseguirá mostrar a estrada a seguir.
E a brisa gélida chega...e com ela, uma nova dor, uma nova ânsia.
Onde irei acabar?
Não, não será assim tão simples. Não quero parar.
Faço-me ao caminho, animado pela chama quente que despoletou no meu corpo.
Caminho horas a fio, pelo meio dos milheirais, cuja altura me faz sentir insignificante; continuo por um bosque calmo, onde apenas as árvores sussurram; a dada altura entro na vila, pacata àquela hora, pouco antes do acordar.
Serpenteio por entre as pequenas casas rústicas, construídas em pedra.
A vila está cheia de ruelas e becos dos quais é difícil saír; ao fim de muito esforço, consigo encontrar aquele palácio majestoso, com um porte capaz de entorpecer os sentidos, com uma beleza capaz de acordar qualquer velho coração adormecido...
Não bato à porta - não quero acordar quem lá mora. Entro suavemente por entre os portões - e dirijo-me às escadas, cobertas por um suave tecido vermelho.
Chego ao topo - esquerda ou direita? Tanto faz. Sigo rumo a um dos lados, pedindo para que a sorte me proteja.
O corredor é ricamente decorado. Tem quadros difíceis de contemplar, visto que apenas são alumiados por algumas tochas, que ainda assim mostram as molduras douradas.
O chão tem algumas peles de animais, e ainda que produto de um acto cruel, transpiram luxo e requinte.
Há três quartos, apenas um deles com a porta fechada. Após alguma hesitação, entro nesse.
Encontrei-a. Fios de cabelo de um loiro vibrante, quase dourado, correm até ao pescoço, ondulados; tez muito clara, que respira inocência e sensualidade. Aproximo-me um pouco mais.
As suas pálpebras delicadas repousam ainda, exibindo longas pestanas e sobrancelhas finas e sinuosas.
Devagar, aproximo-me da sua face. Tornam-se visíveis algumas sardas e a pele sedosa que tem. Outra dimensão me prende... até que toco aqueles lábios doces, sossegados, durante alguns momentos.
Ela acorda, lentamente; quando me reconhece, sorri.
Fitamo-nos intensamente. Não há perguntas. Não são necessárias palavras. Apenas mais um beijo...e outro.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Fading Away
Porquê acordar?
O fumo, qual multidão sedenta, não se dispersou.
O peso da minha alma não voou.
A mágoa que sinto regressou.
A luz adoece, amarela e persistente.
O espírito acorda, demente.
As ruas explodem, num clarão potente.
Não quero querer o que queria
Este sonho em mim morria
A minha casa ficou vazia
Perto de mim, a distância
Sufocante, a minha ânsia
E o dia por mim passa, e avança
Noutro canto, um sonho
Longe deste lugar medonho
Onde o sol volta a parecer risonho.
O fumo, qual multidão sedenta, não se dispersou.
O peso da minha alma não voou.
A mágoa que sinto regressou.
A luz adoece, amarela e persistente.
O espírito acorda, demente.
As ruas explodem, num clarão potente.
Não quero querer o que queria
Este sonho em mim morria
A minha casa ficou vazia
Perto de mim, a distância
Sufocante, a minha ânsia
E o dia por mim passa, e avança
Noutro canto, um sonho
Longe deste lugar medonho
Onde o sol volta a parecer risonho.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
A esfera
O relógio não vai parar. Não agora.
Quero que ande. Que corra. Que fuja.
Da pressão, do borbulhar que sinto dentro, da mágoa enfuriante.
Não deixes que a luz se apague. Tenho medo do escuro.
Não percebes? Toda a minha vida, envolto nesta carapaça distante.
Ela faz com que ninguém consiga penetrar nesta esfera enigmática.
Mas tu consegues. Atira-la contra o chão, vezes sem conta.
E nela aparecem riscos e lágrimas, sempre que te aproximas.
O vidro está gasto. A cada dia que passa, vês menos nesta esfera. Ela fora mágica, outrora.
Mostrou-te o mundo, a vida, o verdadeiro significado da palavra sentir.
Estás a perdê-la. Um dia, o vidro vai partir. Tudo será fumo.
Não conseguirás encontrar outra igual.
Nunca. Para sempre.
Quero que ande. Que corra. Que fuja.
Da pressão, do borbulhar que sinto dentro, da mágoa enfuriante.
Não deixes que a luz se apague. Tenho medo do escuro.
Não percebes? Toda a minha vida, envolto nesta carapaça distante.
Ela faz com que ninguém consiga penetrar nesta esfera enigmática.
Mas tu consegues. Atira-la contra o chão, vezes sem conta.
E nela aparecem riscos e lágrimas, sempre que te aproximas.
O vidro está gasto. A cada dia que passa, vês menos nesta esfera. Ela fora mágica, outrora.
Mostrou-te o mundo, a vida, o verdadeiro significado da palavra sentir.
Estás a perdê-la. Um dia, o vidro vai partir. Tudo será fumo.
Não conseguirás encontrar outra igual.
Nunca. Para sempre.
sábado, 3 de outubro de 2009
The end
O quarto estava sombrio.
No escuro, apenas um vulto deitado na cama a chorar. Lágrimas quentes, que caiam como folhas de outono.
Ele não o merecia. Ele fizera tudo o que podia fazer.
Porque é que a sua vida era um profundo fracasso? Porque é que era alvo de chacota, e ao mesmo tempo tão brilhante e humano?
Ninguém o compreendia. Estaria sempre sozinho, e foi naquele momento que se apercebeu disso.
Saiu sem que ninguém se apercebesse, batendo delicadamente a porta de casa.
Percorreu inconscientemente todas as ruas daquela terra gélida, deserta e inculta.
Numa delas, parou e sentou-se no chão indigno de si. A culpa não era sua e toda a gente iria engolir em seco quando visse como havia sido bem sucedido!
Pegou no seu pequeno caderno de bolso e começou a escrevinhar algo que se tornou incompreensível, dadas as gotas que caíam sobre aquelas folhas de papel baratas.
A dada altura, deixou de escrever.
De que lhe valia ser bem sucedido se continuaria infeliz? Se ninguém o iria respeitar? Não tinha nenhuma maneira de se escapar.
Naquele momento, McLeash dissipou-se como fumo num dia cáustico. E com ele foram as memórias de um rapazinho desajeitado, fechado, que não pertencia ali.
No entanto, o seu mundo viveria para sempre, graças àquelas folhas de papel.
No escuro, apenas um vulto deitado na cama a chorar. Lágrimas quentes, que caiam como folhas de outono.
Ele não o merecia. Ele fizera tudo o que podia fazer.
Porque é que a sua vida era um profundo fracasso? Porque é que era alvo de chacota, e ao mesmo tempo tão brilhante e humano?
Ninguém o compreendia. Estaria sempre sozinho, e foi naquele momento que se apercebeu disso.
Saiu sem que ninguém se apercebesse, batendo delicadamente a porta de casa.
Percorreu inconscientemente todas as ruas daquela terra gélida, deserta e inculta.
Numa delas, parou e sentou-se no chão indigno de si. A culpa não era sua e toda a gente iria engolir em seco quando visse como havia sido bem sucedido!
Pegou no seu pequeno caderno de bolso e começou a escrevinhar algo que se tornou incompreensível, dadas as gotas que caíam sobre aquelas folhas de papel baratas.
A dada altura, deixou de escrever.
De que lhe valia ser bem sucedido se continuaria infeliz? Se ninguém o iria respeitar? Não tinha nenhuma maneira de se escapar.
Naquele momento, McLeash dissipou-se como fumo num dia cáustico. E com ele foram as memórias de um rapazinho desajeitado, fechado, que não pertencia ali.
No entanto, o seu mundo viveria para sempre, graças àquelas folhas de papel.
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