A vida não é tão difícil de explicar como eu pensava. Sou uma mera linha recta, imutável e inabalável. A maior parte das outras linhas sabe o risco que corre, nunca se aproximando de tão anormal excepção.
Há, no entanto, uma ou outra que arrisca tocar com todas as suas forças esta linha. Todas elas vão sendo impelidas para bem longe, nunca chegando a fundir-se uma vez que seja comigo.
Porém, há uma recente excepção que levanta questões e abala alicerces. Talvez esta linha já não esteja tão recta como eu julgava - se calhar isso não é uma coisa má. Se calhar, a pouco e pouco, vou absorvendo, num processo simbiótico, outra linha em mim. Se calhar, estou também a dar uma parte de mim, parte essa que nunca mais vou conhecer ou afagar com a ponta dos meus dedos.
O processo dói. Às vezes, dá vontade de acabar directamente com a minha linha - e, indirectamente, com a tua. Mas sempre gostei de causar o menor sofrimento possível, visto que o mal é meu. Vou deixar que a tua linha se desembarace pacificamente da minha e siga o seu caminho nesta folha de papel.
"They'll give us something,
They'll give us so much to forget"
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