Não sei escrever. O papel que uso fica colorido, mas nunca com as cores que quero. É como se o arco-íris apenas me emprestasse as menos valiosas. A caneta, a dada altura, teima em afrouxar e deixar de brotar a cópia de emoções que lhe peço e sempre pedi - por favor.
As correntes iludem-me e empurram-me sempre para a mesma zona de corais fáceis e banais que toda a gente conhece, como se não existisse mais nada para ser visto. O mundo transforma-se numa pequena bola cujos recantos me fartam, me enchem de tédio, me fazem sentir incompleto.
Recuso-me a acreditar que a adrenalina da novidade chegou ao fim. Tem de haver algo mais imerso nas minhas marés - tem de haver algo mais para saír como truque de magia pelo bico ordinário da caneta. Se assim não for, como hei-de respirar? O ar não me chega, monótona e estável mistura de gases.
Ainda espero que a caneta se aventure noutras correntes, não sei se por experiência se por acaso. Não tenho medo de me perder quando ela colocar em risco os meus passos - o meu corpo vale menos do que o perigo. A única coisa de valor são as cores com que pude pintar a minha alma.
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