“Vai ser hoje”, pensas animado. Lutas energicamente contra os lençóis da cama e, quando finamente os vences, corres para a janela na esperança de que ela te deixe finalmente tocar os segredos do mundo. Procuras com o olhar bem aberto, mas será o suficiente?
Tudo se desvanece nessa fracção de segundo. Não há mais nada, além da brisa que te acaricia a face e o sol que faz brilhar a rua, embora não os consigas sentir. Não, não foram as nuvens que te impediram de ver o que esperavas.
Até quando vais esperar que alguma divindade o faça por ti? Não percebes que, apesar do baú do tesouro estar trancado, és o dono da sua chave? De que adianta esperares pela perfeição se ainda não sentiste o que é falhar?
Precisas de cometer um novo erro, para então deixares de navegar nesse mar sem água, tela sem cor. Precisas de a procurar de novo, para acalmar por instantes esse ímpeto cego que te controla.
Perigosa, excitante, obscena. É por isso que não lhe consegues resistir. Porque te faz esquecer aquilo que és e tudo aquilo que nunca foste. Tudo aquilo que fizeste e tudo aquilo que nunca pudeste fazer.
Deixas-te levar nessa viagem alucinante, viagem que nunca conseguirias fazer acordado. Mal sabes que as cores se perdem amanhã.
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